quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Abandonar o apego ao corpo

Se não reduzirmos o apego ao nosso próprio corpo, será impossível mantermos a disciplina moral pura. Em nome de proteger nosso corpo, prejudicamos os outros e cometemos uma série de ações não-virtuosas. Assim, devemos perguntar; porque aprecio tanto esse corpo? Por que defendo e penso que é meu? Quando a morte nos separada nossa forma física, temos de partir sozinhos, sem amigos. Quem protegerá nosso corpo então? Se não vamos poder protegê-lo nessa hora, porque ficamos ansiosos em protegê-lo agora?

Quem vai herdar nosso corpo quando tivermos morrido? Em alguns países, o corpo morto torna-se um banquete para abutres e chacais. Em outros, é cremado e pouco difere da madeira usada como combustível. Há lugares em que o cadáver é enterrado e se converte em barro e sujeira. Um cadáver também pode ser atirado ao mar, onde será lentamente devorado pelos peixes. Se pudermos reconhecer que o corpo tão cuidado por nós é potencialmente banquete de abutres, lenha ou poeira, não iremos aferrar a ele com apego tão forte, nem sentir que realmente nos pertence. Se, malgrado essas considerações, ainda quisermos proteger nosso corpo, então vamos ter de fazê-lo muito bem, porque o intransigente Senhor da Morte logo vai chegar.

Nós e nosso corpo não somos o mesmo e, em breve, vamos ser separados dele. Portanto, qual é o sentido ou propósito de protegê-lo e de nos apegarmos a ele?

Poderíamos argumentar: “Uma vez que este corpo é meu bastante tempo, devo continuar a protegê-lo.” Mas essa resposta revela confusão de uma mente ignorante. Me primeiro lugar não há um eu independente que possua qualquer coisa. Porque devemos nos ater aos nossos agregados, pus sangue, membros, excremento, urina etc. Como se fossem um verdadeiro eu ou meu?

Se for proteger algo, é mais sensato protegermos uma peça de madeira limpa do que apegarmos a essa máquina pútrida, repleta de impurezas.

A fim de superar essa delusão do apego, devemos analisar nosso corpo minuciosamente á procura de algo que seja limpo, puro e digno dessa exagerada possessividade. Vamos dissecar mentalmente nosso corpo. Separem a pele da carne e examinem se a pele é pura ou não. Despreguem a carne dos ossos e perguntem se isso é limpo. O que dizer então do tutano dentro dos ossos? Olhe para o corpo uma pessoa e veja como ela é por dentro uma máquina com ossos, vezes, sangue, órgãos ambulante... Um saco de ossos e carne, como um boneco desengonçado.

O único motivo para guardar nosso corpo é usá-lo para praticar virtude. De outro modo, só que estamos fazendo é preparar e cuidar comida para os chacais e vermes da terra.

Se o corpo não vai nos servir, então para que nutri-lo com comida e bondade é como remunerar um empregado que não trabalha. Se considerarmos nosso corpo como nosso servo em vez de nosso amo, como fazemos normalmente, poderíamos adotar uma atitude realista sobre como cuidar dele e alimentá-lo. Ficaríamos felizes em lhe pagar um salário justo sempre que ajudasse a praticar virtudes para o beneficio nosso e dos outros; contudo, seríamos críticos e rigorosos sempre que descobríssemos que não beneficiássemos ninguém.

Outra maneira de ver nosso corpo seria considerá-los como um barco. Nesse caso, nossa consciência poderia ser vista como um viajante em busca da preciosa ilha da iluminação. A fim de cruzar o oceano do sofrimento e atingir a nossa meta, é muito mais importante guardamos nosso barco- o precioso corpo humano-até alcançar a nossa destinação e conquistar a jóia dos desejos, que é o corpo plenamente purificado de um iluminado.

Em resumo, precisamos buscar um equilíbrio, reduzimos nossa atitude possessiva e apegada ao corpo, enquanto continuamos a mantê-lo como veiculo para nossas práticas espirituais. O melhor meio é acostumar a mente a ver o que realmente é um corpo, analisando as cinco partes pele, carne, ossos, tutano e órgãos internos.

Uma pergunta essencial que devemos sempre nos fazer é: Estou apegado a quê exatamente?

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